É possível ser uma ex procrastinadora?
Não tenho uma resposta certa, mas sei que podemos ser melhores do que um dia já fomos
Eu não tenho um passado muito legal com a procrastinação, afinal, foi um padrão que me manteve presa por muitos anos e até eu entender que não tinha nada a ver com a preguiça, foi bem complicado mudar esse cenário em que eu me encontrava em profunda repetição.
Antes, eu nunca fui uma pessoa muito organizada e também não me importava muito com isso. Eu sempre “funcionei muito bem” no automático, pois foi a forma que aprendi a sobreviver aos meus dias. Não existia rotina, nem caderno de anotações, nenhum planejamento sequer. Nada disso fazia sentido para mim antes.
Não é à toa que cheguei à minha vida adulta bem ansiosa, sem rumo, sem sentido, sem autoestima e muito ansiosa. Foi muito confuso quando comecei a perceber que tudo estava interligado, inclusive o meu foco e a falta de atenção nas pequenas coisas que eu não conseguia finalizar.
No ano passado, minha psicóloga trabalhou comigo esse problema e foi um choque quando ela disse que eu tinha baixa autoestima e que isso estava ligada à minha dificuldade de colocar em prática coisas que eram necessárias para o meu crescimento pessoal, intelectual e profissional. Não é fácil mudar uma realidade que foi construída em cima das minhas inseguranças, dores, medos, frustrações e vergonha.
E mesmo quando descobrimos que isso é um grande problema, a mudança não acontece tão rápida como gostaríamos. Na verdade, ela é bem lenta e precisamos nos examinar com um olhar muito atento. Confesso que eu ainda tenho muita mágoa com o meu passado e com tudo que deixei passar sem perceber.
Eu gostaria muito de ter mudado esse cenário muito antes. Mas, ao mesmo tempo, reconheço que não havia bagagem suficiente para reconhecer esse problema. A atenção não estava em mim, eu estava preocupada em sobreviver de outras formas. E de outras formas prejudiciais, inclusive.
Eu comecei a me dar conta de que a procrastinação era algo ruim quando eu comecei a sentir um certo incômodo dentro de mim. Chegou um momento da minha vida em que eu estava muito infeliz com quem até então eu tinha me tornado, tanto físico quanto psicológico, social e emocional.
E um incômodo foi puxando o outro, a hora que eu acordava, as coisas que eu comia, a forma como eu me punia, a forma como não me sentia capaz, a forma como eu me via no espelho, em como eu era emocionalmente abalada, o quanto eu não sabia dizer não e o quanto eu era manipulável. Foi uma sequência de coisas que foram se interligando, como em um jogo de quebra-cabeça em que as peças encaixam uma na outra.
O desconforto é um sentimento muito inteligente, pois antes que a gente tome consciência das coisas, é ele que vai nos cutucando e incomodando até a mudança começar de fato na prática. Acredito que a mudança mais importante da minha vida foi a alimentação, quando descobri minha gravidez, minha alimentação começou a mudar.
Afinal, eu queria ter uma gestação saudável onde o bebê também crescesse saudável dentro de mim. A gravidez também me fez questionar pela primeira vez a relação com a bebida alcoólica, não é à toa que nesse período da gestação e também na amamentação não ingeri uma gota de álcool.
Outro ponto crucial foi a inclusão da atividade física na minha rotina. Vai fazer três anos que frequento a academia como forma de cuidar da minha mente e do meu corpo. Antes da mudança, veio o incômodo, depois a consciência e aos poucos as coisas foram fazendo sentido na minha cabeça e nos meus comportamentos.
Nesse processo doloroso que foi descobrir a causa da minha procrastinação, foi entender o quão paciente e amoroso precisamos ser conosco mesmos. E que muitas vezes precisamos passar pela dor, para então sentir um pouco de alívio. Eu não me considero uma ex-procrastinadora, mas me considero alguém que está disposta a se autoanalisar, se observar, se adaptar e acima de tudo ser cada vez mais gentil com a minha evolução.
Para finalizar com emoção:
Caso tenha alguém aí, do outro lado, espero que essa leitura tenha inspirado você de uma forma boa e positiva. E caso você tenha interesse em compartilhar um conselho ou uma experiência parecida, não deixe de compartilhar, ficarei muito feliz em ler suas impressões sobre o assunto.
Até o nosso próximo encontro! <3
Texto maravilhoso Bia! Enquanto lia percebi gatilhos com os quais também me identifico.. Na verdade seus textos sempre me tocam de alguma forma! E me faz repensar sobre muitas coisas. Eu sou daquelas que sempre me deixei para depois, até que cheguei ao extremo do desgaste emocional. E luto até hoje para me manter forte e conseguir colocar para fora os sentimentos o quanto antes ao invés de procastinar e reprimir tudo. Eu era como uma bolha flutuando sem direção. E hoje entendo a importância de escrever para poder me entender, de não me deixar para mais tarde, de cuidar da minha mente, da minha saúde, da minha alma e principalmente tentar organizar primeiro a bagunça interna para depois a externa.