Quem somos nós quando não estamos rolando o feed?
e as coisas que nos atormentam quando estamos online...
Olá.
Como vocês estão aí, do outro lado? Espero que estejam bem para enfrentar esta semana. Por aqui está mais frio e chuvoso... e aí?
Nas últimas semanas, tenho pensado muito sobre quem somos fora das redes sociais e sobre o que escolhemos fazer, genuinamente, além de ficar rolando a tela do celular. Já que isso, mais do que nunca, faz parte da nossa rotina. E talvez você também já tenha sentido esse incômodo em relação ao mundo virtual, assim como eu tenho sentido por aqui.
Sinto que, ao longo dos anos, fomos acumulando nossa relação com as redes sociais sem nenhum tipo de filtro, como se tudo ali fosse mais real do que a própria vida fora dela. Se eu parar para pensar, dez anos atrás eu não estaria tendo essas reflexões tão profundas. Não estaria me questionando, nem questionando minha relação com essa ferramenta que, em algumas situações, pode ser esmagadora. Provavelmente, acharia normal expor minha vida para pessoas que nem gostam de mim de verdade, ou que muitas vezes passam por mim na rua sem nem olhar na minha cara para dar um simples “oi”. Mas, nas redes, estão lá, me observando. E vai dizer que isso não é minimamente estranho?
Passei a semana inteira observando meus sentimentos e angústias do lado real da vida, o lado onde não existem filtros perfeitos nem fórmulas mágicas para nos sentirmos bem de imediato. Para viver isso com verdade, precisei me afastar um pouco das redes sociais, para não cair na armadilha de acreditar que minha tristeza ou minhas confusões são bobagens. E também para não martelar tanto na minha cabeça a ideia de que basta ser eu mesma e criar com o coração para dar certo. Já que parece ser assim que as pessoas fazem sucesso por lá, e é lógico que não duvido disso, massss...
Onde está o meu lugar?
Não me entendam mal. Eu não sou uma “odiadora” do mundo virtual. Não é que eu não goste de estar lá, ou que não queira compartilhar meus textos, meus vídeos falados ou outras coisas que me interessam. Mas, às vezes, sinto que não há espaço para alguém como eu nesse ambiente. Alguém sensível, pensativa, reflexiva, angustiada, sonhadora, envergonhada, insegura e introvertida. Parece que ali dentro todo mundo é tão seguro, tão confiante, tão dono de si e das próprias emoções, que eu olho e penso: não tem espaço para mim aqui.
E quando eu digo “parece”, é porque eu sei que ninguém é confiante de si mesmo 24 horas por dia. Tudo o que recebemos ali é apenas um pequeno recorte da vida de cada um. E somente o que elas querem mostrar.
Nunca gostei muito da ideia de seguir blogueiras famosas, cheias de grana, magérrimas, com cirurgias plásticas, harmonizações e grandes produções. Essa nunca foi a minha realidade. Sempre mantive meus dois pés no chão e sabia que seguir pessoas com uma vida tão “elaborada” só me faria sentir pior. Ainda assim, no meio dos amigos, eu era sempre aquela que estava por fora das conversas sobre essas pessoas famosas. E, por muito tempo, isso me fez sentir mal por não fazer ideia do rumo das conversas. É a tal questão do pertencimento, né? E eu não me sentia nem um pouco pertencente nesses momentos.
O que eu quero oferecer
Quando digo que a maturidade é uma bênção, é por causa disso. Hoje, consigo me proteger melhor de coisas que me causam desconforto. Não fujo, mas procuro entender por que determinado sentimento me aparece. Não quero mais ser alguém que segue apenas o hype ou as tendências do momento. Não quero mais me anular só para me encaixar. Não quero criar pensando apenas no que os outros querem consumir.
Quero escrever o que eu quero escrever e o que eu acho bom. E sim, esse é o caminho mais longo que eu poderia escolher. Mas não me vejo em um caminho onde tudo o que eu faça seja por likes. Tenho entendido, com o tempo, que não é isso que eu quero oferecer ao mundo.
Na verdade, quero oferecer profundidade, sensibilidade, questionamentos, devaneios e até mesmo uma pitada de esperança quando a esperança estiver por um fio. Não sou uma pessoa de certezas. Sou feita de dúvidas. E é assim que tenho encontrado respostas.
Ao me analisar, tenho percebido que a minha maior comparação do momento tem sido com artistas, poetas, escritores e criadores no geral. Tudo que eles fazem é tão bonito, tão criativo, compartilhável e deslumbrante que eu penso “quem sou eu na fila do pão?” e isso me deixa triste e com uma vontade gigantesca de sumir do mundo e nunca mais aparecer. Mas aí, eu lembro que sou mãe, sou esposa, sou filha, neta, amiga, sobrinha e tudo isso conta muito. Não seria justo sumir do mapa sem dizer nada para ninguém. Então, eu volto para a minha realidade, sentada em um sofá, com um edredom cobrindo minhas pernas, enquanto escrevo esse texto com o notebook apoiado no meu colo.
Viver o que é real
Quando limito meu tempo dentro das redes sociais, são os momentos mais reais que consigo viver; vivo sem culpa de ainda não ter conseguido alcançar aquele desejo que está bem no íntimo e que muitas vezes não sei nem como nomear; brinco de futebol no tapete da sala com o meu filho sem a sensação de que deveria estar fazendo algo muito mais produtivo; faz uma semana que tenho lido todos os dias e me sentindo muito mais útil do que rolar a tela de um celular; e também escrevo sem a pressão interna ou até mesmo externa de postar imediatamente.
Sabe aquela questão de estarmos vivendo pela primeira vez? Isso é tão real e mesmo assim, altas vezes peguei me culpando por coisas que só aprendemos vivendo, testando, errando e de vez em quando acertando. A parte mais sufocadora é que nos culpamos o tempo inteiro por coisas que devíamos estar fazendo, por coisas que não devíamos estar fazendo, pelo o que estamos pensando ou por não termos pensado nisso antes. Somos tão injustos com nós mesmos. (Eu sei) ):
Um olhar mais justo sobre nós
E eu só consigo chegar nessa conclusão quando olho para a minha existência fora de uma tela de vidro carregada de informações. São os momentos que mais consigo ser justa com a minha existência, principalmente, com as partes que faltam. E sentir nossas faltas sem culpa é um jeito bonito de olhar para si mesmo não com mais cobrança, mas sim, com um abraço “de que tudo vai ficar bem”.
E não, além das minhas próprias dúvidas, não quero criar mais neuras que não foram criadas por mim. Não quero seguir regras, a não ser que eu queira mesmo saber sobre elas. Quero silenciar mais vezes às vozes que não são minhas, para então, ouvir melhor minha intuição sem interrupções. Também quero deixar fluir cada vez mais a minha escrita e o desejo de ser uma boa comunicadora e ouvinte, é claro.
A pressa não é sua
Tenho pensado que o que nos falta não é criatividade e nem inspirações, mas sim, o desespero por querer seguir caminhos que não são nossos, a dificuldade que temos de nos ouvir e de entender o nosso lugar, por isso, nos cobramos terrivelmente sem nem sequer ter concluído o nível anterior.
Então, se assim como eu, você também se cobra por querer um lugar dentro das redes sociais, que tal valorizarmos melhor o nosso lugar fora dela? Principalmente a forma que nos tratamos quando ninguém está vendo. Vamos ser mais gentis com a nossa existência aqui. Nem tudo precisa de uma resposta imediata, nem tudo precisa ser uma corrida contra o tempo. Nem tudo precisa ser tão acelerado quanto o algoritmo.
Em tempo de IA, precisamos nos lembrar com muita mais frequência que não somos um robô. Nós somos complexos e cheinhos de emoções e crises existenciais. Por isso, o mundo fora das redes é o lugar que mais precisa da nossa atenção. Porque não existem respostas rápidas, o que precisa existir é a compreensão de abraçarmos com mais amor o nosso caminho sem filtros.
finalizo aqui o meu questionamento, meu desabafo e reflexão da semana.
Portanto, se você leu até aqui: muito obrigada. E caso queira compartilhar algum pensamento comigo, adorarei ler. <3
Até a próxima edição!
Com carinho,
Bianca Rosa
esse sentimento é muito real!! quanto mais diminuo meu tempo nas redes, mais percebo como é gostoso viver para além da tela. e toda vez que volto, lembro rapidinho por que me afastei. tô usando um app que bloqueia meu acesso ao tiktok e instagram, depois de um mês usando, achei que já tava no controle e resolvi testar... resultado? perdi duas horas num feed que não me agregou em nada. desinstalei na hora e voltei pro bloqueador. esses algoritmos são feitos pra prender a gente mesmo, e sinto que roubam um tempo precioso da vida que não tô mais disposto a perder.
Não só desacelerar, mas lembrar que cada ação carrega humanidade dentro de nós, logicamente não vamos caber em idealizações irreais e tá tudo bem!! Estamos tão acostumados em perfomar algo incrível logo de cara que descartamos a beleza no processo de amadurecer e melhorar em cada ação. Adorei o texto e concordo veementemente com cada palavra! Ainda mais escrevendo e lendo conteúdo de outras pessoas que são distantes de nós (na cabeça) de tão bom que é, nos tornamos vítimas do que funciona para o outro e tem a ver com a realidade dela; assim como eu te li e achei incrível, preciso lembrar que também escrevi algo incrível e isso não é mentira porque o seu é diferente 🫶🌟.